sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Surftrip – Red Bull Surfing Girls Only


Estava na hora de provar aos cépticos que quando se trata de surf de alta performance as mulheres conseguem ser tão radicais quanto os homens. Num surf camp reservado, com quatro treinadores à disposição, Sally, Sofia, Maya e Nadja, foram para o Peru com o objectivo de melhorar a sua técnica e levar o seu surf para um patamar mais elevado.
Pelo mundo fora, os média especializados têm anunciado esta geração como sendo a que pode quebrar as barreiras de género. “Acredito que ainda temos um longo caminho a percorrer mas demos um passo em frente.”, explicou Sally Fitzgibbons. “Acredito que é possível chegar onde os homens estão, só temos de treinar algumas das usas técnicas.”
“Treinar com os rapazes é bom para as raparigas porque os homens são muito competitivos, o que os leva a esforçarem-se sempre um pouco mais de cada vez que entram na água. As raparigas observam e aprendem com isso.”. Quem o diz é Andy Walshe, o manager de alta performance do projecto Red Bull Surfing. No entanto, as sessões de treino exclusivamente femininas também são especiais, e concentram-se na forma como o corpo feminino funciona em movimento. Para além disso, a forma de pensar de uma mulher é um mundo completamente diferente do masculino onde os treinadores têm de entrar. “A psicologia feminina é muito diferente da masculina...” continua Walshe. “Num local reservado como este, a probabilidade de que elas saiam da concha e nos digam quais são os seus objectivos e sonhos é muito maior. Queremos conhecê-las melhor para podermos ajudá-las.”
Estar apenas no meio de raparigas nãp é melhor nem pior do que estar apenas entre rapazes, é apenas diferente. Durante o ultimo campo misto, o Red Bull Project Air em Fevereiro, os treinadores perguntaram a todos os surfistas os que eles preferiam e as opiniões dividiram-se numa proporção de 50% para cada lado. Ninguém conseguia dizer com 100% de certeza que preferia um campo só de rapazes/raparigas ou misto; os dois são eficazes e têm os seus próprios benefícios.
Um campo com um grupo tão pequeno foi outra característica especial. Apenas quatro raparigas participaram e aproveitaram os intensos dias de treinos. “Ter treinadoras fantásticos como o Dan Ross, o Shane Beshen ou o Andy Walshe quase em exclusivo para mim é fantástico e excelente para o meu suf.”, confessou Sofia Mulanovich.
A jovem Nadja de Col também realçou os benefícios da experiência. “Apesar de já conhecermos os treinadores, nota-se mesmo os surfistas fantásticos que são quando nos vêem a surfar e depois nos dizem para mexer o pé assim ou cinco centímetros para o lado, e, subitamente, conseguimos fazer manobras de uma forma que nunca pensámos ser possível.”
O objectivo de um campo tão pequeno quanto este é dar a possibilidade aos treinadores de se concentrarem nas necessidades de cada surfista e elaborarem um programa à medida para ajudar cada uma delas individualmente. “Grupos grandes não permitem muito tempo com cada surfista, aqui tivemos imenso.”, explicou Dan Ross. E não está a mentir. Análise individual da técnica de surf de cada rapariga foi tema recorrente durante toda a semana.
Enquanto as surfistas estavam no mar, um dos treinadores filma cada movimento delas, para que pudessem ver o que estavam a fazer e perceberem o que podiam melhorar assim que chegasse à areia.. Este método de treino, conhecido por analise de vídeo instantânea, era complementado, com mais analise de vídeo quando as meninas chegavam à casa Bed Bull em Señoritas. Um projector vídeo era a estrela da sala de estar, mostrando os videos constantemente numa das paredes, enquanto as surfistas se reuniam com os treinadores para observarem os seus movimentos e erros duma forma mais personalizada.
Segundo Walshe, “Cada surfista é diferente e tem de trabalhar coisas diferentes. O regime de treinos que planeamos é diferente para a Sofia e para a Sally, que tambem são diferentes dos da Maya e Nadja.”. A nutrição das surfistas foi outro tópico discutido durante o campo. Os surfistas usam imensa energia quando estão no mar, e é extremamente importante que saibam o que comer e beber para compensarem essas perdas. O peixe é geralmente uma das fontes principais de proteínas na dieta dos surfistas. “Normalmente incluímos peixe na nossa dieta porque é muito fácil de arranjar, uma vez que trabalhámos sempre junto ao mar.”, confessa Daniel Ross.
Durante o tempo que passaram no campo as raparigas tiveram a oportunidade de aprender uma nova forma de cozinhar peixe: Ceviche. O famoso chef local, Christian Bravo, deslocou-se à casa da Red Bull para dar uma aula particular às meninas sobre como cozinhar o tradicional prato peruano.
Mas o Red Bull Surfing Girls Only não foi apenas trabalho, houve também lugar para um pouco de diversão. Durante uma das tardes aprenderam algo sobre a história do Peru. As raparigas trocaram as suas pranchas por “caballitos de totora” (barcos tradicionais feitos de canas que ainda hoje são usadas pelos pescadores) e tentaram surfas as ondas tal como o faziam os antigos peruanos da cultura Moche-Chimú. Depois de umas quantas tentativas falhadas e outras tantas quedas, as raparigas conseguiram finalmente dominar os barcos. “Foi fantástico e mesmo divertido.”, confessou Sofia. “No entanto, foi muito difícil colocar-me em pé e manobrar porque os barcos não têm quilhas e são muito pesados.”
O treino de alta performance no campo mostrou as mais modernas técnicas de surf. Durante cinco dias houve treinos específicos para aéreos (usando um skate e um trampolim para simular a acção dentro de água). Houve também trabalho na técnica da remada, critério de selecção de ondas e nutrição. A realização de uma competição que simulava os heats e fases de um campeonato do World Tour encerrou a semana. “Estes dias ajudaram-nos a todas. Cada uma veio com uma ideia do que queria melhorar e conseguiu-o”, disse-nos Maya Gabeira. “Agora só temos que usar o que aprendemos e mostrar a toda a gente as capacidades das mulheres quando se soltam dento de água”.






Referências bibliográficas:

ONFIRE, "Surftrip – Red Bull Surfing Gilrs Only", Revista "GIRLZ On Fire", Edição de Setembro e Outubro

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