terça-feira, 16 de novembro de 2010

TIAGO PIRES


EYES ON THE PRIZE

Durante o teu primeiro ano de WCT as primeiras etapas não correram muito bem. Sentiste que não estavas preparado a algum nível ou é um período normal de adaptação?

- Eu acho que é uma mistura dessas duas! O primeiro ano no Tour não é nada fácil, pois muitas vezes sucumbimos à pressão e acabamos por stressar muito nos heats.
Geralmente complicamos muito as coisas na nossa cabeça de tal maneira, que às tantas já nos parece impossível vencer um heat. Penso que, no primeiro ano, houve vários factores que me dificultaram um pouco a vida. Entre eles o stress e também o mau momento em termos de equipamento que atravessei na altura, mas penso que a experiência fala muito alto no World Tour.

Como encaraste o “episódio” com o Parkinson em Teahupoo?

-Na altura com muita revolta. Houve uma tremenda ingenuidade do meu lado, apesar de continuar a defender que não tinha remado para a onda que me fez perder a prioridade. Mas acima de tudo nunca deveria ter tentado apanhar a onda seguinte pois essa não detinha qualquer potencial de score! Por isso considero que entreguei o ouro ao bandido e penso que, se o mesmo acontecesse hoje, não teria tido o mesmo desfecho.

No segundo ano já não correste o WQS a sério mas o resultado que acabou por te safar o ano só aconteceu na segunda metade do ano. A alguma altura sentiste que estavas em perigo de ficar de fora?

-Não, nem por isso. Dei muita importância ao meu trabalho físico e sabia que isso me ia deixar mais forte. A componente física tem a particularidade de nos tornar mais forte na cabeça, e isso não foi excepção à regra.

Sentes que o facto de teres derrotado o Kelly Slater três vezes fez alguma coisa por ti, além de te dar mais exposição?

-Penso que, além da exposição e do reconhecimento, pouco mais fez por mim pois acabam por ser apenas três heats na minha carreira. Trocava as três vitórias contra o Kelly Slater por uma maior consistência de vitórias!

Confirmas que o Slater faz os seus “mind games” dentro e fora dos heats ou é exagero dos media?

-Confirmo e concordo. O Kelly é o melhor surfista e o melhor competidor de todos os tempos, e por aí passam os ditos “mind games”.

O que achaste das alterações do circuito?

-Acho que foi duro para os rookies que entraram este ano. Alguns deles só conseguiram surfar cinco campeonatos e a meio do ano já se encontram novamente na velha batalha do WQS. Por outro lado, acho que o corte vai fazer com que o nível aumente, pois o nicho de surfistas é menor, e o talento é cada vez mais visto por só ficarem os que estão mais em forma. Acho que o Tour este ano recebeu muito talento jovem e está num nível mais alto que nos anos anteriores. Há um grupo de 6 ou 7 surfistas que vieram destabilizar logo no primeiro ano e isso é uma coisa muito difícil de acontecer!

O que tens a dizer sobre o julgamento no World Tour?

-Acho o julgamento uma velha guerra que tem vindo a ser debatida desde há muito.
Os surfistas quase nunca estão contentes com o trabalho dos Júris. As opiniões divergem sempre, os júris são por vezes afectados pelo público e a onda que se vive na praia.

Achas que o teu estilo de surf é bem valorizado?

-Penso que não é dos mais valorizados, mas não me queixo.

Sentes necessidade de mudar de alguma maneira o teu “approach”?

-Não, nada. Com 30 anos tenho o meu repertório de manobras mais que definido.
Há pequenas coisas que ainda trabalho a nível técnico, mas não estou de maneira nenhuma no momento ideal para mudar o meu “approach”.

Sentes que ganhaste um estatuto diferente a nível de reconhecimento fora da Europa por estares no World Tour?

-Penso que sim, e acho que é uma coisa natural. Uma vez que provas que não és um “entre e sai” do Tour, e que mostras algum serviço, imediatamente ganhas esse reconhecimento internacional.

O World Tour é tudo o que esperavas?

-Sim. Acho que passou a ser uma realidade para mim, logo já não olho para a coisa da mesma maneira como olhava enquanto miúdo. A vida no WT é muito confortável mas temos que trabalhar bastante para nos mantermos.

Tens melhorado todos os anos no circuito, era este o objectivo desde o inicio ou esperavas “escalar” o ranking mais cedo?

-O meu primeiro grande objectivo era qualificar-me e depois passou a ser manter-me no Tour até ao fim da minha carreira. Quanto mais surfo e mais à vontade estou no circuito, mais normais passam a ser as minhas subidas na carreira. Sou daquele tipo de pessoa que acredita que o impossível não existe!

Quais são os teus objectivos a curto e médio prazo dentro do circuito?

-Ser uma presença assídua no top16 e atacar o top10 e o top5.

Quando entraste para o WCT, apesar do apoio do público, tinhas também muitos críticos. Sentes que com o sucesso que tens tido eles calaram-se ou há e haverá sempre um pouco disso?

-Penso que sempre haverá espaço para os críticos. A opinião pública faz parte da nossa sociedade e eu aceito isso, desde que haja algum fundamento. A todas as pessoas que me criticam, quero que saibam que perdem o seu tempo! Criticas sem fundamento e que são baseadas em pura inveja, entram-me a 100 e saem a 200!

Sei que antes do circuito começar fazes sempre um treino intensivo, em que consiste?

-Consiste num trabalho físico intenso de pelo menos 4 semanas, em que treino 4 vezes por semana durante as manhãs, e faço surf à tarde. São semanas muito cansativas mas que acabam por dar os seus frutos mais tarde.

Sentes que a tua vida pessoal está um pouco “em stand by” enquanto competes a este nível ou dá para conciliar?

-Sim, a minha vida pessoal está um pouco limitada, mas vai havendo cada vez mais espaço para a mesma. Hoje em dia eu passo mais tempo em casa do que fora. A minha experiência como pessoa também ajuda a que isso aconteça, pois já não sou aquele adolescente que anda perdido pelo mundo fora.


O que achas que falta para teres uma mediatização maior a nível internacional?

-Talvez ganhar campeonatos no WT. As pessoas gostaram muito quando apareci no circuito, quando fiz o papel de “underdog” , mas isso já teve o seu tempo e já estou no terceiro ano consecutivo. Agora tenho que ultrapassar a barreira do meio da tabela e consolidar-me “lá para cima” para que essa mediatização aconteça. Tudo a seu tempo.

Qual é a tua aposta para o título mundial de 2010?

-Kelly Slater.

Para terminar, começam a surgir surfistas da nova geração com um bom nível em Portugal, vês algum sucessor?

-Eu quero acreditar que sim. Neste momento vejo muito bom nível de surf da parte de dois ou três surfistas juniores nacionais, mas agora há que haver um compromisso de vida forte para largar tudo o que temos em Portugal e passar uns bons anos “on the road” a evoluir e a aprender. A vida no Tour é feita de derrotas, e há que saber lidar muito bem com isso para conseguir aguentar a pressão de alcançar os objectivos.










Referências Bibliográficas:

ONFIRE, "TIAGO PIRES EYES ON THE PRIZE", Revista "ON FIRE Surf", Edição de Setembro e Outubro

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